terça-feira, 18 de outubro de 2016

Para o algo que não sei...


a dor que fulgura é o que não se sente,
com o tempo, que o tempo mofa 
as tenras carnes que me suportam
e se esvaindo os espasmos que a mocidade
trazia, e se acalmando a euforia, 
e tudo correndo tão calmo
como rios secando.

a dor que fulgura é o que não sente
minha besta juventude desejar asas
das quais nunca terá , e assim gastar
sangue e suor, e não perceber que se as tens 
voarás bens , mas até quando?

a dor que fulgura é entender que o cansaço 
se faz mais que a morte, 
que o corpo se distende sobre a alma 
e a alma sobre o corpo, 
e o teatro da tragédia se completa
duas coisas abraçadas, 
no palco da existencia, afagando 
cada qual inclinado 
no cansar à luta sem fim 

ai de mim não sentir essa dor que não sinto,
tanto dói quanto mata esse absinto
de angustia sem fim .

cavo fundo 
cavo
cavo

como a filosofia, como a vida
amo-te e tu parte algum dia ,
seja mãe , avó , pai madrinha
seja a amada minha
que nunca foi.

dói tanto essa dor que não se sente, 
como repelente aos mosquitos que vivem, 
e se matam de vida, com tanto sangue
tanta fartura existida.

não estou vivo como amante no sabor do calor desejado
nem morto como as insólitas criaturas do trem 
ainda resta em mim um capim 
em tempestade de areia
um abismo
molhando tudo , 
mas tudo em  sua estranheza.

vivo , é o que importa
mas não basta , ainda viço a imaturidade, 
ainda não desfalecei-me na ignorância de me preocupar
com as coisas que fazem a desimportâncias
as sublimes coisas inúteis, 
as beleza de wilde.

ai dói-me esse espanto , 
mas o que me sara é ir contra 
o não sentir , pois quero sangrar , 
quero ver-me vivo , e dizer a cristo 
que sangro contigo por amar essa criação que sou 
um absurdo contraditório 
um demonio na pele de anjo 
um anjo em pele de demonio
o filho que berra quando o pai determina o futuro 
a escultura que medra o pavor no artista
de não saber por ande anda a forma.
aquilo que vive 

a dor que fulgura em mim é a dor de não sentir.
mas  ainda é dor , 
a velar para que a noite não venha.

T.V.V

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